O olho mais azul de Toni Morrison

Foto by Lu (@lidosdalu)

Assim que terminei a leitura de “O olho mais azul” postei uma foto no stories e escrevi: Que pedrada! Sim, é uma pedrada, na verdade é um chute na canela, daqueles que machucam e ficam doendo por dias. Toni Morrison, ganhadora do prêmio Nobel, traz um livro relativamente curto e repleto de temas como racismo, violências de todos os tipos, rejeição e pobreza.

A relação que a personagem Pecola tem com o espelho foi o ponto mais importante para mim neste livro. A menina sofre tanto por ser negra e por ser considerada feia por todos que a cercam, que acaba absorvendo isso para sua vida. Carrega consigo as chagas da rejeição e das inúmeras violências que sofre por conta de ser menosprezada pela cor da pele e condição social, que estavam diretamente ligados na época em questão.

Pecola sonha em ter olhos azuis, símbolo de perfeição estética e referência de beleza para ela. Sim, a estética e os padrões de beleza são muito debatidos ao longo da história. O que é o belo? O padrão eurocêntrico é o melhor mesmo? Como toda essa pressão tem impacto na vida de meninas negras que praticamente não tinham referências naquele tempo? Questionamentos como esse passaram na minha cabeça o tempo todo enquanto eu lia.

Posso dizer que mergulhei neste livro, que é dividido em quatro partes, cada um com o nome de uma estação do ano. Acontecimentos muito tristes permeiam a vida da pequena Pecola. Indefesa, ela não revida, se deixa dominar e acaba sofrendo consequências trágicas. Sua história de vida é contada sempre pela perspectiva dos outros. Ela é tão violada de tudo, que a sua voz não pode ser ouvida.

No meu entendimento, Pecola é um corpo quebrado composto por um espírito silenciado pelas sucessivas pedradas que a vida deu. É um tema que me deixa sempre triste, inquieta e também bastante revoltada. Não preciso dizer que amei né?  É uma leitura mais do que válida. É necessária. Penso que todos deveriam saber o que se passa com uma pessoa discriminada e excluída. O que uma sociedade opressora é capaz de fazer com um indivíduo, independente de que minoria ele faça parte. Obrigada @taglivros por esse presente.

SINOPSE: Cholly e Pauline Breedlove têm dois filhos: Sammy e Pecola. Seria uma típica família americana não fossem os Breedlove muito pobres e negros. A situação de marginalidade é ainda mais grave para a menina Pecola, que encontra rejeição em todos os ambientes que frequenta. Na escola, é ridicularizada até pelas outras crianças negras, pois é quem tem a pele mais escura. Em casa, o pai a oprime e a mãe prefere dedicar seu amor à família branca para a qual trabalha. Certo dia, num acesso de desespero, Cholly bebe além da conta, bate em Pauline na frente da pequena Pecola e coloca fogo na casa da família. O serviço social da cidade de Lorain, no estado de Ohio, onde moram os Breedlove, instala temporariamente a menina na casa da família MacTeer. A adolescente Claudia MacTeer, da mesma idade de Pecola, é a narradora de ´O olho mais azul´ e uma espécie de alter-ego da autora. É Claudia quem organiza as histórias de vida dos personagens, fazendo com que o ponto de convergência seja a trajetória de Pecola. Nos Estados Unidos da década de 40, época em que se passa a história, o padrão de beleza é exatamente o oposto daquele que a menina ostenta. Garotas negras e pobres, como ela, costumavam ganhar de presente bonecas brancas de olhos azuis e tomar leite em canecas estampadas com o rosto da atriz-mirim Shirley Temple. Todas as noites, a pequena Pecola reza para ter olhos azuis – num delirante e inconsciente desejo de redenção e ascensão social. Toni Morrison escreveu O olho mais azul entre 1962 e 1965. A história guarda uma íntima correspondência com a biografia da autora. Como ela mesma afirma no posfácio desta edição, escrito em 1993, o livro é uma tentativa de dramatizar a opressão que o preconceito racial pode causar na mais frágil das criaturas: uma criança negra do sexo feminino.

Ficha técnica:

Título original: The bluest eye
Tradução: Manoel Paulo Ferreira
Capa: Alceu Chiesorin Nunes
ISBN: 9788535903157

Ano de Edição: 2019
Selo: Companhia das Letras

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